domingo, 10 de novembro de 2013

Gran Finale (de Alma Welt)


 
 
Gran Finale (de Alma Welt)

Que bela foi a vida, e já se esvai...
Repartida entre a dor e a saudade
Enquanto já a portentosa tarde cai,
Talvez a derradeira em majestade,

Na noite que me espera, anunciada,
Eu confesso, como nunca, me dá medo,
Que me erguia outrora na calada
Para não interromper o seu enredo

Tanto amava a vida em seu encanto
Malgrado os desajustes e tropeços
Pra no coro afinar-me com seu canto.

Soa agora um fatal doze romano
E distante, horas minhas, dos começos,
Em patético final me cai o pano...
 

domingo, 21 de julho de 2013

Ave Oculta da Tarde (de Alma Welt)

 Ave Oculta da Tarde - lito de Guilherme de Faria

Ave Oculta da Tarde (de Alma Welt) 

Ave oculta da tarde, vem comigo
Para acompanhar-me noite a dentro.
Estou só, estou triste e sem amigo
E a morte me espera bem no centro.


É difícil não ter mais quem me conheça
A ponto de tirar a minha ilusão
Ou de dizer palavra chave que esclareça
Para de novo meu pé tocar o chão...

Estou no fim do mundo, ai de mim,
Só com minha beleza e minha poesia,
E isto, na verdade, é um triste fim.

Bem queria ter à roda do meu leito
A velha corte da minha fantasia
E a vela em minhas mãos em cruz no peito
...

terça-feira, 2 de julho de 2013

Encontro com a Moira (III) (de Alma Welt)


A vida nos disfarça o seu horror
Com esse nosso dia-a-dia bonachão
Com o fito de esconder a sua feição
De traços magros, sinistros e sem cor.

 “Alma”, disse alguém,“assim não fales
Estás nos parecendo agourenta
Só com essa visão de nossos males
Que ninguém quer, ninguém agüenta!”

 Mas, eu, que vi a Moira na campina
E chamou-me com um dedo descarnado,
Tão curiosa de saber a minha sina

Que mirando suas órbitas vazias
Ouvi a sua voz de grave bardo:
“Tomarei só a ti, não tuas poesias...”

quinta-feira, 14 de março de 2013

O Encontro Anunciado (de Alma Welt)


Irei ao Cerro do Jarau e às Missões
Pela última vez pra despedir-me
Deste meu Pampa amado e suas lições,
E beijar seu solo antes de ir-me.

E depois ficarei na minha varanda
A olhar os poentes e os levantes
E a perscrutar os signos inquietantes
Que precederão a que comanda,

Aquela que afinal virá buscar-me
Conforme o seu recado tenebroso
Que deu-me na coxilha ao encontrar-me.

Então espero partir dignamente,
Não como num pacto famoso
Mas como quem se entrega docemente...

domingo, 17 de fevereiro de 2013